sexta-feira, 23 de maio de 2008

O Andarilho Apaixonado

Meu amor, agora decrépito, não canta as canções mortas do amor elucido, não declama os antigos poemas dos românticos, e meu coração enfermo ainda clama pela vedete opulenta de outros tempos. Fora prazer jovial, luxo dos aprendizes, pecado dos castos.Flor do prazer mundano, o qual deixava-me ébrio nas madrugadas infindáveis.
Cruel é lembrar daquela companhia extravagante, contumaz, fremosa, beleza perdida em sua feição angelical. Acreditarias se contasse que conheci o amor pela primeira vez?E pela última enlouqueci.

Vi nela a inocência a vestal, o botão de rosa que desabrochava inesperadamente uma beleza ocultada por toda a infância ingênua e tola de menina, ainda delicada e frágil à calosidade das mãos ásperas e hostis, mãos de homem.Foi assim que a conheci.Sozinha.
Meu coração estava vazio assim como seus olhos, que de abandonados foram rejeitados por outros olhos.Procurei a inspiração e vida no lívido olhar.Entreguei-me no deletério de seus braços fracos, de onde nasceu o improvável amante.Aquele de primeiro toque, aquele sem falas e sem fome, que tem sede do carinho.

Inicialmente, éramos só nós, apenas os dois isolados do tempo,na sincronia dos corpos desejosos. Dói-me lembrar a quem ensinei o jeito livre de amar, a quem ensinei a manusear os corpos como os sonetos de Baudelaire, a falar como Julieta em seu jardim; e a encenar os contos sadistas; dói-me lembrar que tais reminiscências tornaram-se um sonho dantesco.Já que minha comborça virgem caiu-se dentre o espírito “meretrizinal” dos vinhos, e do amor mútuo.

Entretanto; no início éramos os dois, agora dividi-la com três ou quatro.Não!Não, por meses.Eram três ou quatro por noite!Ó!Só eu sei qual é a sensação de compartilhar sua alma (pois sim, ela transformou-se em minha alma), com os bardos e ricaços das tavernas e ruas soturnas.

Fora delírio, fora realidade, foram cenas inimagináveis.Fora ela!Fora à intimidade romântica, foram os poemas ditosos.Fora ela, mais uma vez!E desta vez, sem retorno.

Desminto e minto o que disse e o que direi, pois tal tragicidade não chegaria aos pontos de uma peça shakespeariana.”Por quê?” Pergunta vós!E eu vos respondo: ”Por apenas eu ter amado, e apenas eu ter sido abandonado, ainda apaixonado por sua lascividade sideral. Nem uma morte aconteceu, além do meu amor já necrosado, do meu coração desalmado”.

Sinto falta da carne, do sorriso que desfalecia em meus lábios.Sinto-me podre, sinto-me só, sinto-me mórbido nesse mundo vil.

Mas, mesmo aqui, andarilho sob a luminescência lunar, indestinado a procura daquela que roubou o que só tive com seu olhar:
“O amor”

2 comentários:

Laura Veridiana disse...

Ah, mas se eu soubesse que você tinha reativado isso aqui!
Engraçado eu ler esse texto agora. Eu estou numa fase tão... Ah, acho que você entederia, a gente pode conversar depois.
Mas tão "tesão reprimido", tão desilusão, tão ansiedade e perda. Nem sei, umas idéias muito novas na minha cabeça, umas substâncias novas na minha boca, uns sentimentos novos.
Ah, me dá até vergonha ler isso aqui. Você escreve bem demais, prima!

Gustavo Santiago disse...

e continuo perdido nesse andarilhoapaixonado procurando essa mulher que entreguei sem medo meu coração.

Mas não arrependo de nada pelo menos dei de graça, e as pessoas que cobram?

A marcela, sem dúvida esse foi o texto que eu mais indetifiquei. Lindo me lembra essa coisa de se entregar sem medo do que possa acontecer, por mais que arda, que rasgue e deixe ferida, mas isso não tira o prazer de ter vivenciado o fato.

beijos de um garoto apaixonado.