quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Carolina

Recordo-me ainda daquela menina de pele morena e cabelos lisos e pretos que um dia conheci.Na minha opinião ela não nasceu na família certa,tinha muito potencial,mas a vida não era sua amiga,afinal,não escolhemos a vida que queremos,apenas somos postos lá.Na época, morava em Manaus e lecionava em minha própria casa para as crianças aprenderem a ler e a escrever,mas também era professor para adultos e estes pagavam.Estávamos no auge das migrações para o Norte devido à descoberta de matéria-prima;então existia muitas famílias de várias partes do país e do mundo.Mas Carolina,minha pequena aluna era de Manaus mesmo,tão inteligente e interessada que destacava , sem me esquecer daquele iluminado sorriso.Ah!Bela menina.

Depois de tempos percebi que não vinha mais às aulas e procurei saber com os pais dos outros alunos,não conhecia os pais de Carolina,nem onde morava.Disseram-me que tinha um pai alcoólatra e muito agressivo e devido a sua doença ficou desempregado e Carolina, órfã de mãe.Diziam que ele era um freqüentador assíduo dos bordéis da cidade,e que se quisesse saber da menina deveria procurá-lo.

Confesso que nunca tinha entrado antes em um bordel e me surpreendi com as ninfetas que lá residiam.Perto do bar avistei um homem que assemelhava-se com a descrição do pai de Carolina.Indaguei a ele o porquê das faltas de Carolina,já que era muito boa aluna e lhe faria mal ficar ausente tanto tempo.
Pareceu que o que eu disse de nada adiantou para aquele bêbado,pois ele continuava com aquele sorriso bobo e malicioso,até dizer: “Ela não é só boa aluna não,professor...” e apontou para frente,e lá estava a garotinha de onze anos que tanto procurava vestida,quase nua,coberta de pintura vermelha no rosto.Ela subia as escadas com um velho gorduroso e calvo.Não via mais a luz de seu sorriso,mas o sarcasmo do pai;abusando da filha para ter dinheiro,tirou sua inocência.
Passei anos sem saber de Carolina até que um dia me disseram:”ela matou o pai num quartinho de hotel e depois se matou deixando isto para o senhor!”.Um papel todo ensangüentado que dizia:”Aqui jaz o sangue,marca da inocência pura que me foi roubada e deturpada.Ass.Carolina”.

5 comentários:

Ikki disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ikki disse...

Áhh... como assim, está escrevendo só contos antigos é?
Este também eu já tinha lido... e adorei também, claro!

Gustavo Santiago disse...

puta que pariuuuuu...
tchela que pureza pra escrever..
=D

adoro\o/

mas o que eu adoro mesmo são os desfechos do teu texto.

lindo.(melhor texto seu que li esse mês)

Templo do Giraldo disse...

http://templodogiraldo.blogspot.com/



Passem por aqui.

SAUDAÇÕES.

Natália Bayeh disse...

nossa fantasico o conto
o final surpreende
e e trágico não perde
a reflexão!

e concordo
sim
somos uma alusão a doença pragmática do seculo,como a senhorita mesma disse,
a miscigenação do século