quinta-feira, 19 de junho de 2008

Solitude

Todo aquele devaneio lapidado sobre a boa sociedade se tornara controverso. Nos meus lençóis, tudo, ainda era sórdido.Na sala de espera, o barulho. A voz de cinquenta timbres diferentes com sabor de café expresso. E eu, oco, no meio de todo aquele som me sentia sozinho.



E a solidão se ampliava com os gestos alheios, definindo involuntariamente minha invisibilidade. A eloqüência desnecessária daqueles desconhecidos - para consigo mesmo ou com outrem, na tentativa frustrada de desenvolver a socialização passiva imposta por séculos e séculos de sociedade e suas regras. Afinal, a globalização comprova a incapacidade humana de estar consigo, deleitar-se em solitude sóbria - tornava-me fisicamente estéril no quesito relações interpessoais - devo confessar que as intra-pessoais também estão incluídas.



Considera-se que ao meu redor as cadeiras estavam vazias. Assim como os olhares que desviavam-se fulgazes do meu semblante; não por minha carne denunciar uma abominável deformidade,mas por, talvez, aparentar tamanho conforto com a solidão - e isso sim era uma anomalidade.



Não nego que, na maior parte do tempo, realmente me sinto confortável com o silêncio conturbador da minha alma, a degustação do autoconhecimento, o desafio da aceitação. Eu me sobrecarrego de introspecção procurando encontrar meu tempo verbal,conhecer o paradoxo da essência,morar no meu esgoto, vender o tédio , alugar minha felicidade.
É tão dentro de mim que escapo da rotina,apago máscaras,crio o mundo. Aguço sentidos e deturpo a moral e ética.

Um comentário:

Gustavo Santiago disse...

E no teu silêncio da noite, no teu quarto parcialmente escuro, ele chama, ele chega, acaba com teu silêncio, e barulha teus pensamentos. Ninguém fica só. Não acredito nisso.
"alugar minha alegria" - eu gostei desta.