domingo, 27 de junho de 2010

Em tempos de Copa...

A cada quatro anos o Brasil pára: o mercado fecha, a farmácia fecha, a faculdade fecha, o banco fecha, o trânsito para. O país fica estagnado em um feriado nacional que dura 90 minutos – e pode se estender por mais seis vezes se o Brasil for para a final.

Em tempos de copa os brasileiros torcem pelos mesmos heróis – os onze jogadores que vão a campo. É um fanatismo peculiar para a nação, que nessa temporada transforma o futebol em pátria e joga a responsabilidade para o escanteio. Copa é assim: basta um bar, uma cervejinha, uma TV 12 polegadas para que todos sejam iguais (pode ser negro, índio ou branco; pode ser pobre, rico ou classe média) no mundial de futebol o que importa são as performances no campo – que desde Pelé e Garrincha a seleção brasileira deixa os espetáculos a desejar.

Em tempos de copa a visão é unilateral. O brasileiro só enxerga a tela de plasma e LCD, que parece anestesiar sua mente em uma amnésia ou ignorância instantânea já que se esquece de pagar as contas (nessa época o dinheiro é só para o churrasco e a cerveja) e de pegar o filho na escola de inglês (“bendito” fuso horário que emplaca o jogo no meio da tarde). No jornal também só se vê copa. Quem quer saber da inflação ou da cotação do dólar quando se pode rever os gols? E em 2014 como vai ser o Brasil em tempos de copa? O brasileiro vai parar ou preferir trabalhar?

Em tempos de copa todo país canta em uníssono “Eu sou brasileiro com muito orgulho”. Mas orgulho de quê? De ganhar um campeonato esportivo? E o índice de pobreza, analfabetismo, desigualdade de renda? O brasileiro deveria ter esse espírito “pai de santo” que incorpora na copa todos os dias do ano, quem sabe como o país seria então? Mas tudo bem... É melhor ter orgulho a cada quatro anos do que não ter orgulho hora nenhuma.

O mundial tem espaço até nas páginas cibernéticas do Twitter, que anda promovendo pérolas como “cala boca Galvão” e “burro do Dunga”, personalidades que causam irritação na torcida: o comentarista por falar demais e o técnico, em razão da nada ousada convocação. Agora é se contentar com Elano, Josué e Grafite, enquanto nós poderíamos assistir aos gols de Ronaldinho Gaúcho e o show dos meninos da vila (Neymar e Ganso).

Em tempos de copa o Brasil permanece em silêncio, na expectativa de gritar “Goooolll!!!”.

Um comentário:

Pedro Guimarães disse...

Em temposs de copaaa... a tchela resolve voltar a escrever!!! kkkk