quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Another brick in the wall


O quarto oscilava seus três estados: a rigidez do concreto exibia a altivez das paredes , o líquido do copo borrava a geometria do quarto e o ar... o ar continuava volúvel em seu lugar preenchendo todo o nada. Eu estava na cama, olhando ,inerte entre os lençois, onde eu vivia:caixa de quatro paredes.O quarto se fecha nas quatro paredes dos meus olhos cegos.O quarto se fecha em mim.O quarto sou eu.

''Eu tenho no corpo as cicatrizes coletivas,sou mais uma aparição.O meu corpo tem o mesmo comportamento,a mesma intonação,a mesma religião,a mesma política, a mesma educação.O meu corpo é um corpo mudo,morto de voz,carente de particularidade.O meu corpo é o mesmo que o seu.Abrange os mesmos gostos, a mesma repressão.Ausência de eu-lírico,alter ego.Excesso de peito e bunda.O meu corpo é o muro.

O muro que eu criei ainda no ventre.Inicialmente proteção/preservação se calcificou em mim,ao costume,e ao comodismo que a sociedade me mostrou.O individualismo foi naturalmente desenvolvido no mundo "faz de conta" (postbirth),o egoísmo consequência.E ainda estamos, todos, no mesmo lugar(sem alma).

A minha alma se atrofiou com o passar do tempo.Eu deveria tê-la esperado enquanto meu corpo corria.Mas ele correu demais.Minha alma ainda está intocada,apenas inundada de sonhos,delírios,ilusões, contradições.A alma é a única morada do que me restou- será que se resta mais do que se tem?.É nela que ainda existem a espontaneidade, criatividade,liberdade.Alma de todos os pensamentos .

O que é o muro?Quem sou eu?Alma.''

Vida em quatro paredes - Another brick in the wall
(foto:Vladmir Zimakov)

Nenhum comentário: